sexta-feira, setembro 16, 2005

Não à fissão, sim às renováveis porque só mais tarde teremos fusão!


Um dos maiores accionistas individuais da Portugal Telecom (um abutre dos grandes), Patrick Monteiro de Barros, a 30 de Junho revelou a sua intenção de fazer um investimento de 3,5 milhões de euros na construção de uma central nuclear em Portugal, um reactor nuclear de terceira geração com uma potência de 1600 megawatts (Mw). Teve esta miserável ideia quando se começou a aperceber da subida permanente do petróleo e seus derivados.
Manuel Collares Pereira, investigador coordenador do INETI/ITE ( Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovação/Instituto das Tecnologias Energéticas mostra-se pouco concordante com a implementação de um reactor de fissão em Portugal. Aponta também a tendência de outros países se mostrarem interessados em extinguir a tecnologia de fissão, à excepção da Finlândia. Segundo este especialista uma central nuclear não resolveria os problemas de dependência energética do petróleo. O nível de dependência situa-se nos 60 %, mas gastamos muito pouco petróleo na produção de energia eléctrica, que é a única coisa que uma central nuclear produz.
Tendo em conta que não nadamos em dinheiro, o investimento numa central nuclear está fora das nossas capacidades. Ainda mais tendo em conta que é menos dispendiosa a construção de centrais térmicas ou hidroeléctricas e até a maior parte das centrais alimentadas por renováveis. Não obstante, coloca-se o perigo ainda bem presente de acidente,inerente à tecnologia de fissão tal como a impossibilidade de tratamento de resíduos nucleares. No futuro, é bastante provável que as renováveis em conjunto com a tecnologia de fusão se apresentem como uma hipótese energética viável e não poluente.
A fusão nuclear é bem mais vantajosa que a fissão nuclear, na fusão utiliza-se o urânio 238 que é muito mais abundante na natureza que o urânio 235 utilizado na fissão.Nos reactores de fusão os resíduos são mantidos dentro do reactor e só as paredes deste ficam contaminadas por um período de 30 a 50 anos, nas centrais de fissão os lixos radioactivos demoram milhares de anos a perder a radioactividade e têm que ser armazenados constituíndo uma das suas maiores inviabilidades.
O primeiro reactor termonuclear de fusão nuclear, está a ser desenvolvido em França com a participação da União Europeia, Estados Unidos, Japão, Rússia, China e Coreia do Sul.
O ITER ( Internacional Thermonuclear Experimental Reactor ) representa a globalização da ciência e tecnologia visto envolver a colaboração dos países mais desenvolvidos do mundo.
No passado foram já feitas experiências em laboratório, tendo-se conseguido reacções controladas de fusão com cerca de 16 Mw de potência de fusão com um rendimento de 60%. Estas experiências revelaram a possibilidade de se virem a atingir quantidades de energia da ordem dos 500 Mw em apenas 300 segundos, com um ganho positivo que pode ir de 500 a 1000 por cento. O director do Centro de Fusão Nuclear do Instituto Superior Técnico, Carlos Varandas, declarou à revista Água&Ambiente, « se o ITER tiver sucesso, o Homem passará à fase seguinte deste complexo processo, que consiste na construção de um reactor de demonstação. Esta experiência irá permitir transformar a energia produzida por reacções de fusão em energia eléctrica». Acrescentou ainda que, « Para além das vantagens inerentes à energia nuclear ( ser limpa e economicamente viável e vantajosa ), a fusão nuclear é segura e praticamente inesgotável. Segura porque não há transporte de elementos radioactivos fora do local do reactor à medida que são consumidos. Isto significa que em caso de avaria, as reacções podem ser quase instantaneamente paradas através da interrupção da admissão de combustível».
Esta tecnologia encontra-se em desenvolvimento e até que possa ser aplicada ao consumo pela sociedade, podem ainda decorrer algumas décadas. Apesar de se apresentar como uma solução de futuro, os decisores internacionais deverão centar as suas opções energéticas nas renováveis e não na tecnologia de fissão que poderá implicar a insustentabilidade de gestão dos resíduos que produz tal como apresenta um perigo de colapso, permanente.

Também editado em Editorial.

1 Comments:

Blogger H. Sousa said...

A produção de electricidade através das energias renováveis é a melhor alternativa actual. Quando a fusão alcançar o estádio industrial maduro também virá contribuir com energia eléctrica. Tudo indica que se poderá vir a dispor de electricidade suficiente para a produção de hidrogénio e utillizá-lo nos transportes e em queimadores para aquecimento.
De momento, por razões ambientais, económicas e pacifistas, dever-se-ia dar prioridade ao incremento dos transportes públicos de modo a evitar um consumo desenfreado de combustíveis fósseis no transporte individual.

1:30 da manhã  

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